A culpa surge como forma de catarse
necessária para a libertação de conflitos.
Encontra-se esculpida nos alicerces do
espírito e manifesta-se em expressão consciente ou através de complexos
mecanismos de autopunição inconsciente.
Suas raízes podem estar fixadas no pretérito
— erros e crimes ocultos que não foram justiçados — ou em passado próximo, nas
ações da extravagância ou da delinquência.
Geradora de graves distúrbios, a culpa
deve ser liberada, a fim de que os seus danos desapareçam.
Arrepender-se de comportamentos
equivocados, de práticas mesquinhas, egoísticas e arbitrárias é perfeitamente
normal. A sustentação, porém, do arrependimento, além de ser inoperante, apenas
proporciona prejuízos que respondem por numerosos conflitos da personalidade.
O arrependimento tem como finalidade
dar a perceber a dimensão do delito, do gravame, de modo que o indivíduo se
conscientize do que praticou, formulando propósitos de não-reincidência. A
permanência na sua análise, a discussão íntima em torno do que deveria, ou não,
ter feito naquela ocasião, transforma-se em cravo perturbador fincado no painel
da consciência.
Há pessoas que se atormentam com a
culpa do que não fizeram, lamentando não haverem fruído tudo quanto o momento
passado lhes proporcionou. Outras, amarguram-se pela utilização indevida ou
pelo uso inadequado da oportunidade, todas, no entanto, prosseguindo em ação
negativa.
*
Seja o que for que fizeste, ou deixaste
de fazer, a recordação, em culpa, daquele instante, de maneira alguma te
ajudará.
Não poderás apagar o erro lamentando-o,
por mais te demores nesta atitude, tampouco experimentarás recompensas reter-te
na lembrança do que poderias ter feito e deixaste de realizar. A aparente
compensação que experimentes, enquanto assim permaneças, é neurótica, pois que
voltarás às mesmas reminiscências que se transformarão em cáustico mental no
futuro.
Tudo quanto invistas para anular o
passado, removê-lo ou deixá-lo à margem, será inútil.
O que está feito ou aquilo que ficou
para realizar, constituem experiências para futuras condutas.
Águas passadas não movem moinhos — afirma
o brocardo popular, com sabedoria.
As lembranças negativas entorpecem o
entusiasmo para as ações edificantes, únicas portadoras de esperança para a
liberação da culpa.
Há pequenas culpas que resultam da
educação deficiente, neurótica, do lar, igualmente perturbadoras, mas de
pequena monta.
*
A existência terrena é toda uma
oportunidade para enriquecimento contínuo.
Cada instante é ensejo de nova ação
propiciadora de crescimento, de conhecimento, de conquista. Saber utilizá-lo é
desafio para a criatura que anela por novas realizações.
Desse modo, quem se detém nas sombrias
paisagens da culpa ainda não descobriu a consciência da própria
responsabilidade perante a vida, negando-se a bênção da libertação.
De alguma forma, quem cultiva culpa,
não deseja libertar-se, em tal postura comprazendo-se irresponsavelmente.
Sai da forma do arrependimento e age de
maneira correta, edificante.
Reabilita-te do erro, através de ações
novas que representem o teu atual estado de alma.
Detém a onda dos efeitos perniciosos
com a diluição deles nas novas fronteiras do bem.
A soma das tuas ações positivas quitará
o débito moral que contraíste perante a Divina Consciência, porquanto o
importante não é a quem se faz o bem ou o mal, e sim, a ação em si mesma em
relação à harmonia universal.
Allan Kardec, interessado na que estão,
interrogou os Embaixadores Espirituais e recebeu deles a segura resposta,
conforme o número 835 de O Livro dos Espíritos:
— Será a liberdade
de consciência uma consequência da de pensar?
— A consciência é um
pensamento íntimo, que pertence ao homem, como todos os outros pensamentos.
Como consequência, a culpa deve ser
superada mediante ações positivas, reabilitadoras, que resultarão dos
pensamentos íntimos, enobrecedores.
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