A constituição de uma família não é resultado de acidente biológico, mas de uma programação que lhe a-precede à estrutura física e social. As Soberanas Leis da Vida estabelecem códigos que se expressam automaticamente conforme as circunstâncias, obedecendo a padrões de comportamentos que estatuem as ocorrências no processo da evolução dos indivíduos em particular e da sociedade como um todo.
Os
pais, por isso mesmo, não são seres fortuitos que aparecem à frente da prole,
descomprometidos moral e espiritualmente. São pilotis da instituição doméstica,
sobre os quais se constroem os grupos da consanguinidade e da afetividade.
Mesmo
quando aparentemente emprestam as moléculas físicas para o renascimento dos
Espíritos, encontram-se sob jurisdição da Providência Divina, que jamais
improvisa ou experimenta surpresas que são inadequadas ao equilíbrio cósmico.
Os filhos, por sua vez, renascem através daqueles com os quais têm compromissos
morais de gravidade para o desenvolvimento espiritual de ambos: genitores e
descendentes.
Desse
modo, a vinculação pelos laços do sangue possui um significado expressivo do
ponto de vista ético, que não pode ser desconsiderado. A luz do Espiritismo,
bem como da Psicologia Profunda, as heranças do código genético impõem
condicionamentos positivos ou negativos, a que o ser reencarnante se submete
por necessidade de reeducação interior, de reparação de desmandos, de
conquistas relevantes sob qualquer aspecto consideradas.
Não
sendo o ser real o corpo, mas o Espírito pelo qual se expressa e que o comanda,
todos os processos pertinentes à sua existência devem transcorrer dentro dos
sentimentos de afeição e de respeito pelos pais, mesmo quando esses não
correspondem à elevação do ministério de que se fizeram instrumento.
Nesse
sentido, a piedade filial é das mais significativas manifestações de amor que o
Espírito se deve impor, ampliando a área dos sentimentos e acrescentando outros
deveres, quais os de gratidão, respeito e ternura impostergáveis.
Quando
se trata de pessoas não vinculadas através do sangue, mas que se tornaram pais
adotivos ou os representam, esse dever é ainda muito maior, considerando-se que
o afeto de que se fizeram objeto possui um caráter mais grandioso, porque
destituído da obrigatoriedade que a injunção carnal impõe, quando ocorre a
edificação da família.
Esse
formoso conceito expresso no amar pai e mãe, não se restringe somente ao afeto,
à consideração enquanto se encontrem sob sua dependência econômica e civil, mas
sobretudo quando lhes advêm a velhice, o cansaço, a enfermidade e as
necessidades que devem ser supridas mediante carinho e devotamento.
O
declínio das forças físicas e mentais através das enfermidades e do
envelhecimento, que atinge todos quantos têm a existência prolongada, é a fase
mais significativa para que os filhos demonstrem o seu reconhecimento e amor
pelos pais, porquanto, no quebrantar das energias, a amargura, a insegurança e
a insatisfação transformam-se em verdadeiros calvários para as criaturas
humanas.
Como
o jovem de hoje, inevitavelmente, não desencarnando antes, experimentará o
processo de alteração celular, o bem que oferte aos genitores, além de dever, é
também sementeira para o próprio amanhã. Muitas vezes, os arroubos juvenis, os
anseios de gozos, levam os jovens ao esquecimento dos pais, incidindo em grave
erro, de que se arrependerão no momento próprio, especialmente quando se
tornarem também genitores, dando surgimento a transtornos psicológicos
perturbadores sob o açodar da consciência de culpa.
Anuímos
com o fato de que muitos pais não correspondem ao dever que lhes diz respeito,
atirando os filhos ao abandono, esquivando-se de atendê-los nas suas urgentes
necessidades e sofrimentos, conduzindo-se levianamente e sem qualquer
escrúpulo. Todavia, essa conduta enferma não justifica que aqueles que as
sofreram ofertem a mesma moeda de ingratidão e o equivalente pão amargo de
desrespeito, a fim de não derraparem pela rampa da loucura e da perversidade.
O
mandamento maior, preconizado por Jesus, recomenda que o amor deve ser
incessante e inevitável, coroando-se de perdão pelas ofensas recebidas. No
grupo familial, esse amor deve ser mais expressivo, conduzindo o perdão a um
tão elevado grau, que quaisquer ressentimentos de ocorrências infelizes se
façam ultrapassados pela compreensão das dificuldades emocionais em que os
genitores viviam, em razão da sua imaturidade moral, e mesmo de sutis causas
que remanesciam de existências anteriores, gerando antipatia e mal-estar, que
não raro se fazem recíprocos.
Na
exteriorização desse sentimento de amor, a caridade é chamada a contribuir, por
superar os impositivos afugentes, sustentando o ser moral e amparando-lhe as
aspirações do bem, da beleza e da solidariedade, no sadio desejo de contribuir
em favor da felicidade geral.
Há
famílias desagregadas em clima de permanente perturbação, nas quais as lutas encarniçadas
se fazem entre os seus membros, não poupando ninguém. Ocorre que nelas o campo
de batalha das reparações espirituais se apresenta organizado, a fim de que os
litigantes compreendam a ditosa oportunidade de estarem juntos para se
ampararem uns aos outros, se desculparem pelas ofensas que se permitiram
anteriormente, encontrando novo rumo emocional para a experiência da
felicidade.
As
famílias, por isso mesmo, nem sempre são ditosas ou harmônicas, constituindo
agrupamentos de difíceis entendimentos, por faltarem os instrumentos da paz,
que cada membro desconsiderou em outra oportunidade, mas que agora retornam em
carência. Assim sendo, cada Espírito renasce, não no grupo da própria
afetividade entre corações generosos e dignos, mas no clã onde tem necessidade
de aprimorar-se pela paciência, pela resignação, pelo silêncio e pela bondade,
preparando-se para o enfrentamento com os demais grupos sociais nos quais deve
desenvolver os objetivos superiores da existência.
Nesses
grupos infelizes de lutas, não poucas vezes, os futuros genitores programam
filhos conforme os desejos vãos, induzindo mentalmente os fetos a determinados
procedimentos futuros que não são aqueles para os quais retornam ao proscênio
terrestre, e imprimem seus conflitos nas delicadas telas da alma dos
reencarnantes, que irão experimentar posteriores distúrbios nas áreas sexual,
artística, comportamental, que poderiam ser evitados.
É
certo que essa ocorrência encontra-se também estatuída nos compromissos das
Leis de Causa e Efeito, que o livre-arbítrio poderia modificar, ensejando as
reparações sob outras condições, sem os impositivos mórbidos da frivolidade dos
pais. Além das famílias consanguíneas, que oferecem os equipamentos para os
renascimentos físicos, existem também aquelas de natureza espiritual, cujos
vínculos são mais fortes, ligando os indivíduos que as constituem.
Em
face das necessidades evolutivas, no entanto, a maioria dos Espíritos retorna
nos grupos que lhes serão mais úteis do que naqueles que lhes proporcionariam
mais alegrias e bênçãos. Seja, porém, qual for o tipo de família em que cada
ser se encontre, cumpre-lhe o dever do amor filial e fraternal, para bem
desincumbir-se das tarefas que ficaram na escuridão dos erros transatos.
Quando
Jesus, em pleno ministério, sabendo que Sua mãe e Seus irmãos O procuravam com
ansiedade, de forma surpreendente interrogou ao grupo aturdido que O queria
submeter à sua sombra coletiva: - Quem é minha mãe e quem são meus irmãos? - e
após olhar em derredor, a todos elegeu como a Sua família, pois que — completou
- todo aquele que faz a vontade de Deus, esse é meu irmão, minha irmã e minha
mãe.
O
Seu amor familiar ampliava-se a toda a Humanidade para a qual viera, rompendo
os grilhões do grupo restrito, para ensinar que na condição de serem todos os
indivíduos filhos de Deus, são uma só e única família. Ele já se houvera
desincumbido dos deveres no lar, encontrava-se na idade adulta, direcionava os
passos para o objetivo essencial para o qual viera; não seria, portanto, lícito
que se detivesse para atender às paixões e controles de qualquer natureza, em
detrimento das determinações de Deus.
Absolutamente lúcido, dispondo da Sua faculdade de Espírito Superior, conhecedor do passado das criaturas e das injunções reencarnacionistas em que se encontravam, sem abandonar os compromissos morais da afetividade humana, preteriu-os, preferindo não se afastar por um momento sequer da determinação de realizar a tarefa encetada. Amar, sempre, é o impositivo existencial, nele incluindo todo o clã e, particularmente, pai e mãe, a fim de viver longo tempo na Terra que o Senhor Deus dará, conforme preconiza o Decálogo (Êxodo, cap. XX, v. 12).
Texto de Joanna de Angelis, em Jesus e o Evangelho à Luz da Psicologia Profunda.
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