O ser
humano é compelido a viver em sociedade, devido ao próprio instinto gregário,
que o leva à constituição do grupo familiar que decorre de relacionamentos
afetivos que devem ser cultivados com equilíbrio. No entanto, confunde-se por imaturidade
psicológica as sensações com as emoções, deixando-se arrastar pelos impulsos. A
força de sexualidade gera necessidades aflitivas de satisfação imediata. Os impulsos
dos desejos são confundidos com o sentimento do amor – e tudo isso não é exclusivo
do período juvenil.
Pode acontecer que dois indivíduos
solitários e insatisfeitos com uma convivência não realizadora no lar ou no
trabalho seja levado à permuta de confidências, se descobrindo em afinidade de
gostos, aspirações e ideais – que na verdade constituem somente fuga da
realidade. Precipitam-se em uniões ansiosas que logo apresentam desgastes,
quando passam as sensações fantasiosas.
Os relacionamentos virtuais permite que
cada um esconda seus conflitos e transfira para a responsabilidade de outrem,
favorecendo os encantamentos paradisíacos, as paixões avassaladoras,
resultantes das insatisfações acumuladas. Após o contato sexual, conforme
ocorre o amadurecimento das emoções, também ocorre o desencanto, a angústia
decorrente da escolha precipitada. O indivíduo lamenta a pressa com que atendeu
aos seus impulsos e permite-se a ojeriza pelo parceiro que lhe tolhe a liberdade
de outras opções e aí temos as separações litigiosas.
A predominância dos impulsos sexuais, a
herança da abstinência forçada por motivos religiosos ou decorrente da
ignorância agrava a situação quando o sujeito não sabe canalizar o excesso de
energias. O preconceito e a vulgaridade com que são abordados os fenômenos fisiológicos
do sexo geram os vícios sociais e morais com prejuízos graves para a
estabilidade comportamental.
O sexo merece ser estudado desde muito
cedo na vida infantil, com os mesmos esclarecimentos que se concede aos demais órgãos,
no que diz respeito à higiene, ao uso, à finalidade. Isso é um recurso
preventivo.
Fazem-se necessárias a harmonia doméstica, a convivência com a prole por parte dos genitores, as conversações esclarecedoras, a confiança recíproca, a amizade sem submissão nem temor.
O HOMEM
Sempre concedeu-se ao homem uma conduta
mais liberal, de modo que o casamento nem sempre é visto como um compromisso
relevante especialmente no que concerne à fidelidade, que é fator de primeira
grandeza para o sucesso do relacionamento. Logo passadas as primeiras emoções,
surgem a realidade e o dever, desnudando a individualidade do outro.
Observam-se melhor os hábitos e
costumes, o significado do compromisso familiar, surgindo os medos, a insegurança.
O que antes era encantamento, pelo repetir-se gera monotonia, cansaço. As queixas
começam a surgir como resultado inevitável das pequenas insatisfações que fazem
parte do cotidiano.
O que antes era liberdade de movimentação
agora se expressa como menos poder, porque a convivência a dois impõe
responsabilidade na conduta, necessidade de esclarecimento ao outro. Os deveres
e responsabilidades passam a ser divididos. Os conflitos que estão acumulados
no inconsciente ressumam e não são aceitos pela consciência, transferindo a
responsabilidade para o outro a fim de ficar-se bem consigo mesmo.
Se o homem é introvertido, evita falar
e assume atitude enigmática. Nenhum relacionamento pode sobreviver quando o
mutismo toma conta. Se é extrovertido, se torna explosivo e imprevisível. O diálogo
é o método eficaz para resolver incompreensões, sendo com respeito e sem qualquer
tipo de imposição.
É impraticável esperar-se que a união
de dois indivíduos que se amam seja sempre tranquila, sem desafios emocionais. Cada
pessoa é uma construção psicológica que se encontra com outra a fim de produzir
harmonia e não fusão com perda da identidade – como no passado, a mulher
submissa que não tinha o direito de pensar, de sentir, de viver, somente o de
submeter-se.
Os eventos passados, por sua vez,
influenciam (acontecimentos da família de origem). Surgem os mecanismos de
transferência afetiva e as insatisfações podem culminar em separações
litigiosas, onde as dificuldades são transferidas para a parceira.
Quase sempre surge uma terceira pessoa
que passa a influenciar a conduta, nascendo as aparentes afinidades, culminando
em complicadas ligações extraconjugais, que irão influenciar fortemente a
separação da parceira anterior. Essa solução vai culminar em futuros conflitos.
Em alguns casos a problemática é
resultado do crescimento no trabalho, onde o homem fascina-se pela conquista de
patamares sociais e econômicos, políticos ou artísticos elevados que persegue,
deixando a parceira na incômoda situação de segundo lugar.
Desaparece o interesse sexual,
esfria-se a afetividade o antigo encanto cede lugar à indiferença que culmina
em separação complicada. Havendo filhos e bens a repartir, os sentimentos
perturbam-se ainda mais, as mágoas se acentuam produzindo ressentimentos que serão
discutidos em tribunais, a prejuízo da família em particular e da sociedade
como um todo.
Será sempre ideal a preservação do respeito pelo parceiro, de modo a não produzir conflitos psicológicos nos filhos. A imaturidade emocional, o entanto, prefere as atitudes agressivas e os danos marcam significativamente.
A MULHER
Em face do atavismo em torno da fragilidade
da mulher, temos a marca da discriminação multimilenar que gera insegurança
e timidez. Tradicionalmente, o casamento era-lhe uma fuga do despotismo
doméstico, uma busca pela autorrealização e pela maternidade. A mulher se transferia
de uma situação arbitrária de dependência para outra, em busca de uma aparência
de segurança em face da proteção masculina que recebia.
O estado de solteira lhe constituía um
sinal de desprezo e de inferioridade social e pessoal, valendo o esforço para
conseguir casar-se. O despotismo machista só raramente concedia-lhe o direito à
própria identidade, sempre lhe pesando a carga das responsabilidades e tarefas.
Essa é uma herança mórbida.
Não experientes em relação às sensações
decorrentes dos relacionamentos sexuais, facilmente deixam-se arrastar pelas ilusões.
Os sentimentos amadurecem, os conflitos se sucedem, sentem-se traídas, quando não
o estão sendo realmente, ou frustradas na busca da independência, vivendo
solitárias embora a companhia.
Mediante transferência de conflitos,
passam a ver no marido a figura detestada dos genitores que as molestaram ou afligiram,
deixando-se consumir pelo sentimento de vingança e ódio. Esfria-lhes o interesse
afetivo sexual.
Descobrindo posteriormente a necessidade
emocional da autorrealização, do destaque na sociedade, não apenas a posição de
dona de casa, a mulher passa a competir consciente ou inconscientemente com o
parceiro, utilizando-se das armas da falsa superioridade, da inteligência e da emoção.
Confunde os sentimentos de maternidade com os de liderança.
Nos dias atuais, em razão das
conquistas femininas, deixa-se consumir por uma surda rebelião contra o homem,
trabalhando para ultrapassá-lo, utilizando inclusive de hábitos insalubres como
o tabagismo, o alcoolismo, a liberação sexual.
É natural que um consórcio seja
desfeito. A união afetiva exige responsabilidade e união de ambos os membros. Os
melindres, as inseguranças, os conflitos devem ser analisados em conjunto, em
vez de escamoteados no inconsciente para aparentar uma harmonia que não existe.
A mulher despreparada para a união sexual
e a convivência afetiva a longo prazo, opta pela separação. As experiências
constituem um patrimônio de alto valor, especialmente aquelas que ensinam como não
mais se devem repetir, facultando o crescimento interior do indivíduo e o eu
amadurecimento psicológico.
Optando desse modo pela separação litigiosa, desgasta-se também a mulher que passa a vivenciar conflitos.
SEPARAÇÕES HARMÔNICAS
A afetividade é indispensável para a saúde
emocional quando se apresenta tranquila, e nenhuma criatura pode viver sem. A afetividade
que une dois indivíduos é fonte de conquistas iluminativas. No entanto não é
assim que ocorrem suas expressões iniciais, sendo mais impulsos de posse, de
desejos, do que de sentimentos de equilíbrio
e de fusão transcendental. Isso por causa do primarismo na psique.
As uniões pela afetividade quase sempre
expressam necessidades de relacionamento sexual, em detrimento de
companheirismo, de convivência, de compartilhamento de emoções.
O ego insaciável, irrequieto, impede as
manifestações equilibradas do Self, mantendo o jogo dos gozos rápidos a prejuízo
das satisfações profundas.
Surgem o egocentrismo e o egoísmo responsáveis
pelas atitudes infelizes, daquele que somente espera fruir sem dar, acreditando-se
especial. Aí surge o fator de desequilíbrio, levando à separação litigiosa.
Quando existem sentimentos de nobreza,
os parceiros dão-se conta das dificuldades que enfrentam e tentam restabelecer a
união, cada qual de sua parte, envidando esforços para preservar a conquista
realizada.
Lentas modificações operam-se no
comportamento. Muitas vezes, porém, torna-se difícil ou irrealizável a
reconstrução do relacionamento afetivo, chegando-se à conclusão de que o melhor
caminho é a separação física, mantendo o respeito e o entendimento, particularmente
quando existem filhos, cuja saúde emocional deve ser preservada a qualquer
custo.
Nos rompimentos litigiosos surgem os
distúrbios psicológicos, transformando-se em ódios. Quando existe saúde emocional
e amadurecimento psicológico em ambos os parceiros, as soluções harmônicas cicatrizam
as chagas dos desentendimentos, eliminam as acusações recíprocas e restabelecem a saúde.
As pessoas, embora tristes com a ocorrência
da separação, encontram-se amadurecidas para futuras uniões, sem os erros da
experiência encerrada. Com o tempo, nasce um sentimento de gratidão pelo
parceiro que soube preservar a amizade. Assim devem ser os comportamentos maduros.
A imprevidência e a imaturidade pesam
na consciência daquele que tem a intenção de ferir e perturbar, gerando conflitos.
Todo relacionamento afetivo é feliz, quando existe respeito entre os parceiros,
resultando ou não em prolongada união.
Pessoas adultas, psicologicamente amadurecidas,
agem com equilíbrio, sem precipitação, tanto ao iniciar um relacionamento após
reflexão cuidadosa, como ao terminar, em separação de natureza harmoniosa.
Com atitudes desse porte, a sociedade
preservará sempre os laços de família como recurso básico para a constituição de
grupos felizes, que aprendem a amar-se e a respeitar-se. O amor é livre sem ser
libertino. As criaturas podem e devem unir-se através dos seus vínculos,
respeitando as leis dos diversos países, com direito de separar-se sem que as uniões
sejam para toda a existência, o que viola o direito de felicidade, tendo em
vista os processos normais de crescimento intelecto-moral, de desenvolvimento
da consciência, de experiências evolutivas, de necessidades emocionais e espirituais.
A vida é rica de bênçãos, as castrações impostas são decorrência de transtornos de conduta e de visão estreita de indivíduos conflitivos e infelizes.
(Recortes dos textos de Joanna de Angelis em “Encontro com a Paz e a Saúde”).
Livro dos
Espíritos (Allan Kardec), questão 775: “Qual seria para a sociedade o
relaxamento dos laços de família?”. R: “Uma recrudescência do egoísmo.”
Nenhum comentário:
Postar um comentário